Sobre

Jane Vanini, jovem nasceu em Cáceres, em setembro de 1945. Filha de José Vanini e Antonia Vanini, estudou no Colégio Imaculada Conceição (CIC) e cursou o Ensino Médio no Colégio Estadual “Onze de Março” (CEOM). Por volta de 1966, mudou-se para São Paulo (capital) onde desejava trabalhar e continuar os estudos. Passou a morar com sua irmã Dulce Ana Vanini e, trabalhou, inicialmente, como secretária da Revista Engenheiros Modernos, depois na empresa Mesbla S/A e, por fim, trabalhou na Editora Abril, na Divisão de Relações Industriais. Pensando numa formação acadêmica, planejava fazer o curso de Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP). Para tanto, frequentou o “cursinho” pré-vestibular ofertado pelos estudantes do Centro Acadêmico de Filosofia da USP quando conviveu com outros jovens universitários e pré-universitários.

Naquela oportunidade, no contexto do regime civil-militar, Jane foi se envolvendo com o movimento estudantil paulista que, além de discutir questões pertinentes às políticas públicas de Educação escolar e formação acadêmica, também discutiam os macros problemas políticos nacionais. Nessa convivência, ela conheceu e se casou com Sérgio Capozzi (estudante da Escola Politécnica da USP) e, em 1968, morando na Rua Paraguaçu, bairro de Perdizes, em São Paulo, ambos tornaram-se simpatizantes e, posteriormente, militantes da Ação Libertadora Nacional (ALN), organização política opositora ao regime militar vigente. Em uma ação policial-militar no centro de São Paulo (1970), o então militante Gilberto Beloque foi preso e, sob tortura, disse conhecer o casal. Assim, os militares da “Operação Bandeirantes” buscaram Capozzi na Editora Abril, lugar onde trabalhava no departamento de Documentação da recém criada Revista Veja. Mas, com a ajuda do chefe de segurança da empresa, Sérgio consegue “escapar” do cerco, encontra-se com Jane na casa da irmã Magali e os dois vão para a clandestinidade, pois era a única forma de sobrevivência. Com a ajuda de outros companheiros, eles conseguiram sair do Brasil em um navio italiano, pelo Porto de Santos. Com os nomes de Mário e Adélia, o casal passou por Montevidéu, Buenos Aires e chegou à Europa, precisamente em Praga, capital da antiga Tchecoslováquia. De lá, os dois passaram “um tempo” na capital cubana, onde conseguiram recursos para retornarem ao Brasil e retomarem a resistência política. Antes, porém, o casal deixou a ALN e passou a pertencer ao Movimento de Libertação Popular (MOLIPO). Com a aquisição de um sítio em Araguaína/GO (hoje Tocantins), o casal e mais dois companheiros recomeçaram a luta de enfrentamento ao regime. Entretanto, após a morte de um dos militantes, o grupo decidiu que Jane fosse ao Chile em busca de ajuda. Ela chegou à terra de Salvador Allende no Natal de 1971. Em território chileno, incorporou-se ao Movimento de Izquierda Revolucionaria (MIR), participando de trabalhos voluntários de apoio ao governo e sobreviveu trabalhando como secretária da Revista Punto Final. Enquanto isso, no Brasil, o outro integrante do MOLIPO, Geová Assis, é morto em Goiânia em uma emboscada policial quando Sérgio (Mário) foi ao Chile para encontrar-se com Jane. Ao tê-la convidado a sair da luta, ela não aceitou e resolveu ficar no Chile por acreditar na experiência socialista (em andamento), proposta por Allende. Com a separação do casal, posteriormente, Sérgio se casou com uma chilena e foi para a Europa. Jane se casou com o jornalista-militante (mirista), Jose Carrasco Tapia (Pepe), e seguiu firme nas ações políticas da Organização. Em 1973, com o golpe de Estado liderado pelo então general Augusto Ramón Pinochet Ugarte, os apoiadores de Salvador Allende e em particular os militantes do MIR passam a ser brutalmente perseguidos pelas forças militares repressivas do novo regime. Fugindo mais uma vez da violência do Estado, Jane vai sobreviver como uma artesã chilena. Em 1974, alguns militantes miristas foram enviados para a cidade de Concepción na perspectiva de estarem mais distantes das fúrias policialescas e militaristas dos grupos repressores da capital Santiago. Jane foi uma dessas militantes que passou a ocupar uma casa no centro da cidade.

Por denúncias de alguns moradores, em dezembro de 1974, uma ação policial- militar cercou a casa onde ela estava e, num enfrentamento, Jane foi capturada. Ainda ferida, ela foi levada a um hospital militar e, depois de quatro dias, foi assassinada em um local incerto. Seus restos mortais continuam no Chile.Como personagem desse tempo histórico-político da América Latina, Jane Vanini é nome de uma Praça na cidade de Concepción/Chile, como também nome de Rua em um bairro do Rio de Janeiro e ainda nomeia a turma de Licenciatura e Bacharelado em História da UFMT (1993/1). Ao tomar conhecimento da singularidade dessa história e por ser uma cacerense, o então, governador do Estado de Mato Grosso, Dante Martins de Oliveira, no ato de criação do campus de Cáceres, decidiu homenageá-la com a denominação de Câmpus Universitário Jane Vanini, em 06 de outubro de 2001. Enquanto militante de esquerda, tanto no Brasil quanto no Chile, Jane se utilizou de codinomes como, por exemplo, Adélia, Carmem, Tereza, Ana, Gabriela, entre outros. Durante o tempo que esteve na experiência chilena, Jane se correspondeu com sua família no Brasil através de cartas pessoais que, de várias formas, foram enviadas à Dulce, a quem chamava afetivamente de “Madrinha”. Essas cartas e outras fontes são o suporte documental da pesquisa de mestrado da professora Maria do Socorro S. Araújo (Curso de História, UNEMAT/Cáceres), pelo Programa de Pós-Graduação em História da UFMT, 2002. Há uma cópia dessa pesquisa no acervo bibliográfico do Núcleo de Documentação de História Escrita e Oral (NUDHEO), vinculado ao curso de Licenciatura em História.

Autoria do Texto: Profa. Dra. Maria do Socorro de Sousa Araújo


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